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Foto do escritorFernanda Palhari

O falecido Mattia Pascal, de Luigi Pirandello

Atualizado: 30 de abr. de 2020


Esse foi o segundo livro de Pirandello que li, logo depois de Um, nenhum e cem mil, cuja resenha vocês podem conferir aqui. O falecido Mattia Pascal também trabalha com a questão existencial, assunto que me instiga bastante. Na obra, Mattia Pascal é um jovem rico que vê a fortuna de sua família minguar graças às maquinações de um dito amigo. Ele se vê forçado a casar e a viver de forma humilde na casa de sua sogra, uma mulher a quem não suporta e que não o suporta também.

Sua relação com a esposa era boa nos tempos antes do casamento, mas tudo muda com o matrimônio. Ao longo dos anos, a união fica ainda mais desgastada, até que surge uma oportunidade um tanto insana. Mattia passa alguns dias fora de casa e, quando decide retornar, descobre que o deram como morto - reconheceram o corpo de um suicida encontrado nas terras da família como o dele. O primeiro instinto do personagem é desmentir o engano, mas ele acaba percebendo que seus ombros estão finalmente livres do peso que carregaram durante anos de brigas e desentendimentos. Então, ele decide assumir uma nova identidade e recomeçar tudo do zero, com a ajuda de uma boa quantia de dinheiro que ganhou na sorte. Acho importante ressaltar que ele não apenas adquire um novo nome, ele inventa toda uma nova história, com direito a uma outra família, histórias de nascimento e de infância e tudo o que se possa imaginar.

Ele passa algum tempo viajando pela Europa, conhecendo novos lugares, até que sente a necessidade de se estabelecer em algum lugar. É nesse ponto do livro que começamos a ver mais profundamente a falta que nos faz não ter uma identidade com a qual nos reconheçamos. A questão existencial começa a ficar mais acentuada na mente de Mattia Pascal e, por consequência, na do leitor. Pascal não conseguiu desenvolver nenhuma relação próxima desde que saiu de sua cidade e começa a se questionar se ter sido dado como morto foi realmente tão libertador quanto ele havia pensado.

O livro é uma obra maravilhosa que nos faz ter inúmeras considerações sobre as várias questões levantadas pela história, não somente no que diz respeito a questão da identidade. Um ponto que me chamou bastante a atenção foi o das diferenças na natureza das várias relações que o personagem trava, voluntária ou involuntariamente: seu irmão parece um tanto à parte das questões da família, enquanto Mattia e sua mãe parecem ter uma relação bastante próxima; a esposa e a sogra o detestam, mas o mesmo não ocorre com o próximo interesse amoroso do personagem; e a forma como os habitantes das duas cidades - a antiga e a nova, na qual se estabelece com o novo nome - o tratam também são díspares.

A obra é um tanto conhecida, ao menos pelo nome, já que é considerada um clássico da literatura. Muita gente recua assim que escuta a palavra "clássico", então acho importante dizer que a leitura de Mattia Pascal não tem nada de maçante (um adjetivo que, infelizmente muitas vezes usamos para descrever aqueles livros que somos obrigados a ler no colégio). A escrita de Pirandello é fluida e simples, conduzindo o leitor pelo caminho de várias divagações internas que vão sendo despertadas ao longo das páginas.

❤ Até o próximo post! ❤

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Fernanda Palhari ama ler e falar sobre livros, organização e desenvolvimento pessoal, gosta de visitar e indicar locais bacanas, é adepta da yoga e tenta manter um estilo de vida saudável para o corpo e para a mente.

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