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A consciência de Zeno, de Italo Svevo

Atualizado: 30 de abr. de 2020


Eu terminei esse livro na última sexta-feira e ainda não sei direito o que pensar sobre a obra. Eu a li por conta da faculdade (preciso entregar um trabalho sobre ela no início do mês que vem), mas não é daquelas histórias que lemos somente por obrigação acadêmica. A consciência de Zeno é um clássico importantíssimo para a literatura italiana e até mesmo mundial.

A história é narrada por Zeno Cosini, um senhor que, ao se pensar doente, passa a frequentar o consultório de um psicanalista chamado Dr. S., que lhe diz para começar a escrever suas memórias. É da escritura dessas memórias que se compõe o livro, memórias que o psicanalista, tendo-as em sua posse, decide publicar para se vingar do paciente que não quis terminar o tratamento. Sendo assim, o que lemos é uma espécie de autobiografia da vida de Zeno Cosini, bem sucedido comerciante de Trieste, com lembranças trazidas à tona durante as sessões de psicanálise ou por tentativas solo do próprio personagem.

O livro é dividido em capítulos nem um pouco regulares, a começar pela quantidade de páginas. Enquanto alguns tem em torno de vinte, outros são compostos por mais de cem. E eles também são divididos de uma forma um pouco diferente, cada um tratando sobre um tema da vida do personagem, digamos assim. Vou colocar aqui os nomes de cada um deles para vocês terem uma noção melhor do que estou querendo dizer. O livro começa com o Prefácio (escrito pelo doutor, que nos conta o motivo de publicar as memórias), depois o Preâmbulo (à partir daqui quem narra é Zeno) e então vêm os capítulos de fato, chamados O fumo, A morte de meu pai, A história de meu casamento, A mulher e a amante, História de uma sociedade comercial e Psicanálise. Em cada capítulo Zeno se põe a lembrar e a escrever os acontecimentos naquele campo de sua vida. A relação com o pai, por exemplo, sempre foi bastante problemática e muito provavelmente tenha sido essa a origem do hábito do personagem de sempre fumar últimos cigarros, que nunca eram realmente últimos.

Ao longo de todo o livro Zeno se considera alguém bastante infeliz, já que não casou com a mulher que queria, não conseguia se mostrar bom nos negócios, entre outros pontos que ele levanta. Mas a obra toda também carrega uma boa dose de ironia. Ele, de uma forma ou de outra, teve sucesso no comércio, ama sua esposa, construiu uma família que possui sua afeição. A questão principal, nesse ponto, é que o livro é um exímio exemplar do romance moderno, em que a discussão passa a ser do interno do homem, deixando te ter como foco as relações em sociedade. E nós, sinceramente, não chegamos a nenhuma conclusão de fato. As memórias narradas por Zeno podem ser reais (reais no mundo fictício da obra) ao mesmo tempo em que podem ser só invenção. E enquanto invenções, podem ter sido escritas por ele como verdadeiras ou apenas com a intenção de que pareçam reais. Enfim, é um livro um tanto complicado por essa perspectiva.

A leitura da obra, entretanto, não é difícil. Eu demorei bastante tempo para concluí-la porque não consegui ficar curiosa para saber como terminava a história, então só lia quando realmente conseguia sentar e ficar um tempo programado lendo as páginas. Mas, enquanto lia, gostava bastante das histórias de Zeno e de como ele as contava. A ironia do texto criou vários momentos cômicos que conseguiram algumas risadas da minha parte.

E eu gostei muito do final. Quando cheguei ao último capítulo a história começou a ficar ainda mais interessante. As últimas linhas, então, me conquistaram por completo. Fiquei com aquela sensação recompensadora que sentimos depois de finalmente, depois de tanto esforço, ter conseguido alguma coisa. O meu esforço foi, como comentei, sentar para ler apesar de não estar curiosa, mesmo achando a história bacana. Depois de um mês, finalmente, consegui terminar o livro e fiquei felicíssima por isso. A sensação foi parecida com a de terminar Grande Sertão: Veredas, uma obra-prima da literatura nacional que demorei dois meses para conseguir terminar.

Enfim, indico muito o livro, mas já deixo avisado que provavelmente serão necessárias doses de persistência e paciência. E o final reflexivo compensa bastante, pelo menos para mim. Amei a forma como Svevo foi construindo o livro, mesmo que tenha sido difícil para mim tentar acompanhar tudo. E o último parágrafo realmente nos faz pensar sobre algumas coisinhas (não tão pequeninas assim) do nosso mundo moderno e da nossa vida cotidiana.

❤ Até o próximo post! ❤

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Fernanda Palhari ama ler e falar sobre livros, organização e desenvolvimento pessoal, gosta de visitar e indicar locais bacanas, é adepta da yoga e tenta manter um estilo de vida saudável para o corpo e para a mente.

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