Título: Fale! (Speak)
Autoria: Laurie Halse Anderson
Tradução: Flávia Carneiro Anderson
Editora: Valentina
A edição que tenho aqui em casa de Fale! foi feita com base na edição comemorativa de dez anos do lançamento da obra nos Estados Unidos, ocorrido em 1999. Pelo que pesquisei ela é a primeira tradução do livro feita no Brasil, então demorou um pouquinho para a história de Melinda chegar aqui no nosso país, ao menos em forma de papel. A obra foi adaptada para filme em 2004, com Kristen Stewart interpretando a protagonista. Ainda não consegui assistir ao longa, mas pretendo fazer isso e quem sabe até fazer um post sobre ele aqui, em ADAPTAÇÕES.
Fale! conta a vida de Melinda, uma adolescente que acabou de entrar para o primeiro ano do ensino médio. Ela costumava ser uma menina que gostava de se divertir e tinha algumas amigas, mas tudo mudou depois de um acontecimento na festa anual promovida pelos alunos do último ano do colégio. Durante essa festa, Melinda foi agredida e, sem saber o que fazer, ligou para a polícia, o que acabou levando à prisão de alguns estudantes e gerou raiva nos outros alunos, inclusive nas amigas de Melinda. Acontece que, depois de ser agredida, a protagonista não conseguia se forçar a falar sobre o que tinha acontecido, nem mesmo com a policial que a atendeu no telefone (a polícia chegou à festa com base na localização fornecida pelo celular). As supostas amigas, por sua vez, lhe viraram as costas ao invés de tentar entender o que tinha acontecido. Por consequência, a cada dia Melinda se fecha cada vez mais em seu próprio mundo.
O livro vai mostrando o dia a dia da protagonista com dois espaços principais, a escola e a própria casa da adolescente. A história é narrada pela própria Melinda, o que nos dá grande acesso aos pensamentos da personagem. E os pensamentos, nesse livro, são muito importantes, porque Melinda quase não fala, mas pensa muito. E pensa de uma forma irônica, um tanto cínica e cheia de analogias e comparações - algumas partes tem até mesmo um quê de poéticas.
Por meio desses pensamentos vamos acompanhando a vida da protagonista na escola, aonde precisa lidar com o bullying, com o isolamento e com a cobrança dos professores (já que a cada vez mais seu boletim, que antes costumava ser todo B, se traduz em uma série de D's ou notas piores), e em casa, com pais que estão tão centrados nos próprios problemas que não tentam descobrir porque sua filha, que costumava ser alegre e ir razoavelmente bem na escola, anda faltando às aulas e quase não fala uma palavra.
A única pessoa que senti realmente se importar com Melinda durante todo o livro é o professor de Artes, prof. Freeman. Aliás, é nas aulas dele que a protagonista encontra uma espécie de refúgio, desenvolvendo seu projeto do curso, uma árvore que seja capaz de dizer algo. A edição do livro inclusive tem vários detalhes de árvores, mostrando o quão importante e simbólica ela é para a história.
Ao mesmo tempo que Melinda lida com o que aconteceu e tenta esquecer, fugir ou enfrentar essa realidade, a autora também dá várias pinceladas em outros assuntos bastante importantes, como democracia, privilégio branco, bullying, importância da amizade, falta de interesse dos pais na vida dos filhos e o feminismo. Não consigo lembrar de todos os assuntos que são abordados, é claro, mas são vários, e às vezes apenas em uma única frase. E essas poucas palavras, cheias de ironia e humor, são capazes de despertar uma corrente sem fim de pensamentos.
Considero Fale! uma leitura bastante necessária e tenho indicado à obra para várias pessoas à minha volta. Já falei dela algumas vezes no instagram e algumas pessoas inclusive comentaram que a obra já está na tbr delas. Espero ter conseguido convencer quem ainda não leu o livro a dar uma chance à ele. Melinda tem muito o que contar ao leitor.
❤ Até o próximo post! ❤
